domingo, 26 de junho de 2011

Imagens do cotidiano

Desconfiai do mais trivial ,
na aparência singelo.
E examinai, sobretudo, o que parece habitual.
Suplicamos expressamente:
não aceiteis o que é de hábito como coisa natural,
pois em tempo de desordem sangrenta,
de confusão organizada, de arbitrariedade consciente,
de humanidade desumanizada,
nada deve parecer natural, nada deve parecer impossível de mudar.
Bertold Brecht, poeta e dramaturgo alemão
 

























imagens captadas na localidade do km 23 - BR 010

sexta-feira, 24 de junho de 2011

A dinamicidade da vida

Os políticos e as fraldas devem ser mudados frequentemente e pela mesma razão. 
Eça de Queirós, escritor português (1845-1900).

segunda-feira, 13 de junho de 2011

Dicas para uma consciência cidadã - Parte III

Reúna provas
Antes de denunciar o desvio de verba pública é necessário obter documentos que comprovem as suspeitas.
  • Verifique as denúncias cuidadosamente. Elas podem ser apenas desavenças políticas;
  • Busque informações em órgãos públicos como a Junta Comercial, Receita Estadual e Federal;
  • Identifique funcionários que colaboram com o esquema de corrupção;
  • Analise transferências e aplicações de recursos como o FUNDEF.

No caso de empresas fantasmas, verifique:
Existência física:
Vá ao local indicado na nota fiscal e veja se a empresa está realmente instalada. Certifique-se com moradores da região se a empresa já funcionou no local ou não. Se constatar que a empresa é fantasma, tire fotos do local. Elas são úteis para o processo.
Aspectos jurídicos:
  • Confira se a empresa tem certidão na Junta Comercial;
  • Confirme o seu Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica (CNPJ) da Receita Federal;
  • Além disso, confira todas as informações disponíveis, pois existem empresas fantasmas que utilizam o número de empresas legalmente constituídas;
  • Verifique o seu cadastro na Receita Estadual, junto a Secretaria Estadual de Fazenda através do Sintegra.
Notas fiscais
Verifique se a gráfica que imprimiu o talonário da empresa funciona no local indicado. Existem gráficas clandestinas especializadas em fornecer talonários para esquemas de corrupção.
Serviços prestados
Verifique irregularidades como compras acima da demanda real, preços superfaturados ou descrição vaga sobre os serviços prestados. Outro indício de corrupção são empresas que emitem notas apenas para a prefeitura.
Conheça outras dicas de como coletar provas na cartilha “O Combate à Corrupção nas Prefeituras do Brasil”

A reinvenção da roda

Notícia bombástica de hoje: Demonstrando a dinamicidade e eficiência do governo municipal, acabam de surgir duas novas praças em Irituia, uma dedicada aos fieis evangélicos da Igreja Assembleia de Deus, e a outra aos católicos, em homenagem ao saudoso Pe. Mário Rodrigues. 
Mas onde serão construídas? Na verdade não serão, pois já existem, tratam-se das até então praças do Mercado e praça Alírio Almeida de Moraes, que num ato de genialidade, só comum a nossos valorosos representantes, passarão a ser renomeadas. Governo eficiente é assim mesmo, quando não se tem mais o que criar, reinventa-se a roda.

sexta-feira, 10 de junho de 2011

Liberte-se!


"A preguiça e a covardia são as causas pelas quais uma parte tão grande dos homens, libertos há muito pela natureza de toda tutela alheia, sentem prazer em permanecer por toda sua vida menores; e é por isso que é tão fácil a outros instituírem-se seus tutores. É tão cômodo ser menor."
Immanuel Kant, filósofo alemão

terça-feira, 7 de junho de 2011

A aridez incômoda

E passam horas, dias, semanas, meses, anos... e nada acontece de novo por aqui, é sempre o mesmo visual, o mesmo discurso, as mesmas desculpas, as mesmas práticas, os mesmo vícios, as mesmas carências, os mesmos... senhores de sempre. Em que tempo estamos, mesmo? Século XXI? Confesso que há momentos em que me vejo vestido numa daquelas armaduras medievais. Onde estarão nosso jovens sonhadores? Precisamos nos reciclar, URGENTEMENTE!!!

Prestação de contas: a infindável espera

Coitada, esta senhora simplesmente resolveu exercer seu legítimo papel de cidadã e ir conferir a prestação de contas do gestor municipal, que por lei é obrigado a encaminhar anualmente à Câmara de Vereadores, para que qualquer cidadão, como esta senhora, como eu, como você, possamos conferir e, se desejarmos, nos manifestar sobre; mas pelo que parece, não é de hoje que essa história se repete. Até quando a população será tolida de seus direitos? E os vereadores, quando resolverão passar do mero discurso à prática? Todos sabem o que têm a fazer: cumpram a Lei, só isso. A população agradecerá, com certeza.

Para refletir


"Um 'capitalismo sustentável' é tão provável como um crocodilo vegetariano"
Michael Löwy, sociólogo

Leitura obrigatória aos nossos educadores


Sabemos da predominância da revista Veja entre a classe docente de nossas escolas, não só irituienses, frise-se, e para enriquecer o debate sugerimos a leitura atenta desta respeitada publicação, que prima sempre pela inversão das análises, digamos a partir dos de baixo, já que, conscientemente, é impossível sonharmos com um mundo mais justo, pensando com a cabeça de nossas elites.
(...)
Nesta edição especial da Caros Amigos reunimos artigos exclusivos dos mais importantes educadores brasileiros, muitos deles que há décadas estudam propostas e caminhos para a formação escolar e o mundo ligado ao processo educacional, gente que tem dedicado a vida para construir, aqui e agora, uma nova história do ensino no Brasil.
[...]




À venda nas bancas ou aqui http://lojacarosamigos.com.br/

quarta-feira, 1 de junho de 2011

A pensar nas eleições

Os jovens acampados no Rossio e nas praças de Espanha são os primeiros sinais da emergência de um novo espaço público – a rua e a praça – onde se discute o sequestro das atuais democracias pelos interesses de minorias poderosas e se apontam os caminhos da construção de democracias mais robustas, mais capazes de salvaguardar os interesses das maiorias. A importância da sua luta mede-se pela ira com que investem contra eles as forças conservadoras. O artigo é de Boaventura de Sousa Santos.

Nos próximos tempos, as elites conservadoras europeias, tanto políticas como culturais, vão ter um choque: os europeus são gente comum e, quando sujeitos às mesmas provações ou às mesmas frustrações por que têm passado outros povos noutras regiões do mundo, em vez de reagir à europeia, reagem como eles. Para essas elites, reagir à europeia é acreditar nas instituições e agir sempre nos limites que elas impõem. Um bom cidadão é um cidadão bem comportado, e este é o que vive entre as comportas das instituições.


Dado o desigual desenvolvimento do mundo, não é de prever que os europeus venham a ser sujeitos, nos tempos mais próximos, às mesmas provações a que têm sido sujeitos os africanos, os latino-americanos ou os asiáticos. Mas tudo indica que possam vir a ser sujeitos às mesmas frustrações. Formulado de modos muito diversos, o desejo de uma sociedade mais democrática e mais justa é hoje um bem comum da humanidade. O papel das instituições é regular as expectativas dos cidadãos de modo a evitar que o abismo entre esse desejo e a sua realização não seja tão grande que a frustração atinja níveis perturbadores. 

Ora é observável um pouco por toda a parte que as instituições existentes estão a desempenhar pior o seu papel, sendo-lhes cada vez mais difícil conter a frustração dos cidadãos. Se as instituições existentes não servem, é necessário reformá-las ou criar outras. Enquanto tal não ocorre, é legítimo e democrático atuar à margem delas, pacificamente, nas ruas e nas praças. Estamos a entrar num período pós-institucional.

Os jovens acampados no Rossio e nas praças de Espanha são os primeiros sinais da emergência de um novo espaço público – a rua e a praça – onde se discute o sequestro das atuais democracias pelos interesses de minorias poderosas e se apontam os caminhos da construção de democracias mais robustas, mais capazes de salvaguardar os interesses das maiorias. A importância da sua luta mede-se pela ira com que investem contra eles as forças conservadoras. Os acampados não têm de ser impecáveis nas suas análises, exaustivos nas suas denúncias ou rigorosos nas suas propostas. Basta-lhes ser clarividentes na urgência em ampliar a agenda política e o horizonte de possibilidades democráticas, e genuínos na aspiração a uma vida digna e social e ecologicamente mais justa.

Para contextualizar a luta das acampadas e dos acampados, são oportunas duas observações. A primeira é que, ao contrário dos jovens (anarquistas e outros) das ruas de Londres, Paris e Moscou no início do século XX, os acampados não lançam bombas nem atentam contra a vida dos dirigentes políticos. Manifestam-se pacificamente e a favor de mais democracia. É um avanço histórico notável que só a miopia das ideologias e a estreiteza dos interesses não permite ver. Apesar de todas as armadilhas do liberalismo, a democracia entrou no imaginário das grandes maiorias como um ideal libertador, o ideal da democracia verdadeira ou real. É um ideal que, se levado a sério, constitui uma ameaça fatal para aqueles cujo dinheiro ou posição social lhes tem permitido manipular impunemente o jogo democrático. 

A segunda observação é que os momentos mais criativos da democracia raramente ocorreram nas salas dos parlamentos. Ocorreram nas ruas, onde os cidadãos revoltados forçaram as mudanças de regime ou a ampliação das agendas políticas. Entre muitas outras demandas, os acampados exigem a resistência às imposições da troika para que a vida dos cidadãos tenha prioridade sobre os lucros dos banqueiros e especuladores; a recusa ou a renegociação da dívida; um modelo de desenvolvimento social e ecologicamente justo; o fim da discriminação sexual e racial e da xenofobia contra os imigrantes; a não privatização de bens comuns da humanidade, como a água, ou de bens públicos, como os correios; a reforma do sistema político para o tornar mais participativo, mais transparente e imune à corrupção.

A pensar nas eleições acabei por não falar das eleições. Não falei?

Texto retirado do sítio da agência http://www.cartamaior.com.br/ (com destaques meus)

A escravidão moderna é uma maravilha!


Você está num bar ou restaurante, acompanhado de um amigo, de repente toca o celular dele. Ele atende, não é uma conversa qualquer, é trabalho. O diretor, gerente ou qualquer chefete dele dá ordens, pergunta algumas coisas e ele fica ali, meia hora “trabalhando” ao seu lado.
Isso está cada vez mais comum. Tem gente que se sente importante por receber da empresa que trabalha um telefone corporativo, “de graça”. E a partir daí o trabalho o acompanha 24 horas por dia. A jornada de trabalho, para esse pessoal chegado numa “modernidade” (nisso incluem-se as relações de trabalho) não é mais de 40 horas por semana. É de 168 horas. O sujeito tem que ficar 24 horas por dia com o aparelho ligado. Alguns têm também um troço no computador, que apita quando é chamado para trabalhar, seja de madrugada, depois de um dia estafante, seja num domingo na hora do almoço.
Há uns meses, um cara com quem marquei uma conversa num boteco apareceu com um laptop ligado. De vez em quando, parava a conversa e respondia a perguntas de um “superior” dele. Fiquei irritado. Ou vamos conversar ou você fica trabalhando aí que eu vou pra outro lugar. É uma chatice.
Outro cara que conheci falava maravilhas do laptop ligado à internet, porque nos fins de semana podia ir para a praia, ficar numa barraca tomando uma cerveja e… trabalhando. Respondi que acharia maravilha o contrário: você ficar no ambiente de trabalho tomando uma cerveja e paquerando. Mas para esse pessoal eu sou um anormal. A tecnologia é uma maravilha e temos que “aproveitá-la” o tempo todo. Só que quem tem aproveitado é o patrão. O celular da empresa e o laptop, nesses casos, são o instrumento da escravidão moderna.
Alguns perceberam isso, talvez tardiamente. Houve ações trabalhistas que chegaram ao Tribunal Superior do Trabalho (TST), para cobrar horas extras sobre o tempo trabalhado com o celular, o pager e não sei que mais. O TST não aceitou as queixas. Esta semana decidiu que, como o empregado não perde a mobilidade trabalhando com o celular ou o pager nos horários que deveriam ser de folga, o trabalho executado por meio desses instrumentos de domínio (claro que o TST não usou esses termos), ele não tem direito a receber por horas adicionais de trabalho. Bem feito! Que continuem aceitando a escravidão moderna, sem rebeldia, sem nem sequer a alternativa de ir para um quilombo, pois esse pessoal, se for, é bem capaz de levar o celular institucional, o tal pager e o laptop em conexão com a empresa, como o cara que acha legal levar o laptop à praia.
Aliás, a tecnologia, que deveria ser libertadora do trabalho, tem tido esse efeito contrário. Imaginava-se que, com máquinas que executam trabalhos de centenas de pessoas, a carga de trabalho diminuiria radicalmente, sobrando mais tempo para a vida própria, a prática de atividades artísticas, esportivas, culturais e tudo que é agradável. Mas o que tem acontecido?
Dou o exemplo de uma multinacional que tem uma fábrica perto do bairro da Lapa,em São Paulo. Quandoconheci a empresa, há três décadas, ela tinha mais de 1.500 empregados nessa fábrica. Todos trabalhavam num ritmo normal e moravam em casas de classe média da região. Hoje, a empresa produz dezenas de vezes mais, lucra muito mais, e tem pouco mais de cem empregados, boa parte deles morando em favelas. Trabalham muito mais e ganham muito menos.
É isso: se uma máquina pode substituir vinte pessoas, o racional, humano, seria diminuir a carga de trabalho dos trabalhadores, de modo que pelo menos muitos deles mantenham os empregos. Mas o patrão faz o contrário: com cinco máquinas que fazem o trabalho de vinte pessoas cada, ele poderia demitir cem empregados, mantendo o mesmo tempo de trabalho. Se fosse um pouquinho ético, demitiria muito menos. Mas demite 150, e os que sobram têm que trabalhar num ritmo alucinante, sem descanso. O patrão sabe que esses empregados restantes se sujeitam para não perder o emprego, porque eles desempregaram muita gente que está disposta a qualquer coisa para ter um emprego novamente.
Agora há esses instrumentos de controle, com a complacência e até o elogio dos escravizados. Escravizados de luxo, mas escravizados.
Eu continuo com meu sonho anarquista, irrealizável: já que a máquina faz quase tudo por nós, deveríamos trabalhar apenas um dia por mês. Por exemplo: meu dia de trabalho seria o 15 de cada mês. No dia 14, eu passaria o dia inteiro me preparando física e psicologicamente. Quereria fazer um trabalho exemplar. E ao final desse dia me sentiria livre por um mês para viajar, fazer cursos, ler, escrever, cursar alguma coisa, pintar, bordar, cantar, brincar, namorar, assistir a quantos filmes quisesse, enfim, fazer tudo o que acho bom.
Mas isso é coisa de anarquista, não é? Uma anormalidade. O normal é trabalhar o dia inteiro, ir pra casa e continuar trabalhando na hora que o patrão quer, sendo chamado a qualquer momento e tendo que atender para não perder o emprego. Interrompa-se o jantar, interrompa-se o sexo, interrompa-se o filme ou futebol, interrompa-se a leitura… Trabalhe, trabalhe, trabalhe. O TST não vai criar caso.
***
Mouzar Benedito, jornalista, nasceu em Nova Resende (MG) em 1946, o quinto entre dez filhos de um barbeiro. Trabalhou em vários jornais alternativos (Versus, Pasquim, Em Tempo, Movimento, Jornal dos Bairros – MG, Brasil Mulher). Estudou Geografia na USP e Jornalismo na Cásper Líbero, em São Paulo. É autor de muitos livros, dentre os quais, publicados pela Boitempo, Ousar Lutar (2000), em co-autoria com José Roberto Rezende, Pequena enciclopédia sanitária (1996) e Meneghetti – O gato dos telhados (2010, Coleção Pauliceia). Colabora com o Blog da Boitempo quinzenalmente, às terças-feiras.
Matéria retirada do blog da Boitempo: http://boitempoeditorial.wordpress.com/
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